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domingo, maio 04, 2008

NASCE O SUPER-HOMEM

Este ano a criação máxima de Jerry Siegel e Joe Shuster: o Super-Homem, completa 70 anos. Muito se fala sobre a sua trajetória através de todos esses anos, as brigas na justiça pelos direitos autorais, as eternas reformulações do personagem, os desenhos, seriados para tv e cinema, e os filmes de longa metragem.

Mas como isso tudo começou? Qual foi a fonte de inspiração de Jerry Siegel e Joe Shuster? Como tudo começou? Para responder a essas perguntas voltemos no tempo:

O pai de Jerry, Mitchell Siegel morreu assassinado com dois tiros dentro de sua loja, vítima de um assalto. Um crime que nunca foi resolvido, em conseqüência disso o padrão econômico dos Siegel fora fortemente abalado, recebendo ajuda de familiares, Sarah Siegel manteve como pôde sua família. Jerry Siegel era seu eterno bebê, passava a maior parte do tempo em casa na companhia da mãe sonhando com homens que declaravam guerra ao crime e estavam acima de qualquer necessidade e acima da dor.

Ainda adolescente com desempenho fraco nos estudos, começou a participar do jornal semanal de sua escola The Torch, alimentando o sonho de um dia se tornar repórter. Lois Amster que fazia parte da equipe editorial foi vencedora do título da “mais popular”, ganhando entre os colegas de redação o apelido de “Petite Lois”.

Os desenhos de Joe Shuster impressionaram o editor do jornal de sua escola, que nada mais era do que Jerry Fine, primo de Jerry Siegel. Ao dizer que iria se mudar para a Glenville High School, Fine o recomendou que procurasse Jerry, pois tinha certeza de ambos iriam se dar bem, e assim se deu início ao contato e futura parceria com Jerry Siegel.

Em meados dos anos 20 o fisiculturismo entrava em voga, Bernad MacFadden editor da revista Physical Culture, promoveu em 1922 o fisiculturista Angelo Siciliano ou Charles Atlas, como “o homem do corpo mais perfeito do mundo”. Atlas foi ídolo de Joe Shuster que desejava desenvolver seu raquítico corpo, apesar das zombarias de Jerry, que era avesso a qualquer atividade física.

Charles Atlas influenciou visualmente personagens como Tarzan, que aparecia nas capas dos pulps trajando uma pele de animal no mesmo estilo que Charles em suas apresentações em público.

Quando Buck Rogers estreou sua tira diária nos jornais, Siegel detectou o plágio da história sobre o romance Armageddom 2499 AD – Philip Nowlan, publicado nas páginas de Amazing Stories, enquanto Shuster por sua vez vislumbrou o mercado como desenhista, já que o desenhista do título era um garoto pouco mais velho do que ele.

No ano de 1929, Jack Williamson, correspondente de Jerry Siegel, escreveu o romance The Girl From Mars, onde um alienígena vivendo em nosso planeta era dotado de poderes superiores aos de um homem normal.

Em 1931 o primeiro número da revista do Sombra, esgotava-se nas bancas, abrindo caminho para outros heróis sombrios na luta contra o crime, Agente Secreto X-9 e Dick Tracy antagonizavam com o pueril estilo de Zorro e Pimpinela Escarlate, fomentando as fantasias de Jerry, mesclando com o seu gosto pela ficção científica, a luta contra o crime.

Com o sucesso dos desenhos de Harold Foster na primeira versão em quadrinhos de Tarzan. Foster deu vida ao corpo másculo, dotando-o de dinamismo, beleza e agilidade, tornando-se um ícone de admiração de leitores masculinos e femininos. Siegel e Shuster, vendo isso (afinal eles também eram admiradores do trabalho de Foster), começaram a traçar planos para um trabalho próprio no mundo das tiras de quadrinhos.

Às vésperas de completar 18 anos, Siegel anunciou nas páginas do The Torch o lançamento de sua própria revista: Science Fiction: The Advance Guard of Future Civilization. O anúncio prometia em suas páginas escritores conhecidos e um grande investimento em propaganda, mas o preço era ousado: 0,15 cents, 50% a mais do preço cobrado pelo renomado fanzine: The Time Traveller, que possuía uma qualidade gráfica surpreendente. Mas na verdade, o grande time de escritores anunciado por Siegel era composto quase por completo por apenas ele e Shuster, que se revezavam em diversos pseudônimos para produzir a revista.

Foi produzindo a coluna de resenha de livros, que Siegel conheceu um livro que deu um rumo novo a suas idéias: Gladiator, de Philip Wylie.

Gladiador era um mito sobre o homem superior e a sociedade medíocre que destruía tudo aquilo que poderia vir a beneficiá-la, em troca de um conforto imediatista e conformista. Em sua trama, um biólogo, utilizando os recursos da eugenia transforma o próprio filho: Hugo Danner, no protótipo do homem perfeito: invencível, de força e vitalidade além do comum, e dotado de uma superioridade moral inata. Ao atingir a idade adulta, decide ir de encontro à civilização para ajudar o mundo e os seus semelhantes, mas ele encontra uma humanidade mesquinha, onde marginais o desafiam em lutas constantemente, é pressionado pelo exército a participar de uma guerra desleal e mercenária, as mulheres se atiram aos seus pés em gestos fúteis e interesseiros, é explorado por um agenciador de lutas de boxe, até aprender como lidar com o mundo e com as pessoas, mesmo que maioria delas não compartilhe de seus ideais íntegros e pacíficos.

Gladiador foi o catalisador que Siegel precisava, como apontam os seguintes trechos do livro: “Faço algumas coisas que me assustam, pai. Consigo saltar mais alto que uma casa, consigo correr mais rápido que um trem”. Ou quando Hugo em meio ao campo de batalha, descobre que as balas não ferem a sua pele, e tiros de maior calibre como os de um canhão, não fazem mais do que apenas derrubá-lo momentaneamente. Mais tarde, a fim de se acostumar com seus superpoderes, Hugo constrói uma fortaleza solitária em meio à floresta.

Tudo isso aliado a certas características dos personagens: Tarzan e John Carter de Marte, ambos criados por Edgar Rice Burroughs. Eram os mais fortes e nobres exemplos de como o ser humano deveria ser, dotados de uma superioridade inata que lhes dava comando de qualquer mundo ou ambiente que adentrassem.

Com a mente fervilhando e com os desenhos de Joe Shuster, Jerry Siegel escreveu: The Reign of the Superman, uma novela futurista em nove páginas datilografadas.


Em breve sinopse podemos narrar o texto de Siegel: Numa reflexão às conseqüências da grande depressão de 1929, que inundou as ruas dos EUA de desempregados e famintos, que surge o primeiro cenário do romance. Onde o professor Smalley observa os moribundos na fila de sopa, e escolhe um deles (Dunn) ao acaso para ser cobaia em um experimento. Injetando no corpo do andarilho uma substância encontrada em um meteoro, este adquire um poder mental surpreendente, capaz de ouvir os pensamentos das pessoas a sua volta, Dunn acaba fugindo semi-enlouquecido com o choque de seu novo poder.

Sua mente começa a clarear gerando uma sede de conhecimento, os livros da biblioteca nacional não suprem sua necessidade, levando-o a uma fúria irracional cada vez mais crescente. O professor Smalley observa aturdido o crescimento de fúria e poder de Dunn, em breve nada poderá detê-lo, e para que ele não domine o mundo, terá de ser morto, mas Dunn o mata primeiro, não antes de Smalley enviar uma carta-testamento ao principal jornal da cidade.

Com pleno domínio do poder de controlar a mente das pessoas, Dunn inicia seu plano de domínio mundial ao incitar ódio entre os membros do Conselho Conciliatório Internacional, para que cada país lance seu exército contra o outro até a total aniquilação do poder bélico mundial.

O repórter Forrest Ackermann tenta enfrentar esse super-homem, porém sem sucesso, e na eminência de sua morte faz uma prece silenciosa pedindo o fim para tal tormento.

E então quase que por milagre a face de Dunn começa a mudar: o soro estava perdendo o efeito. Para num arrependimento tardio se lamentar por entrar para a história como uma maldição e não como uma benção.

Jerry Siegel não era religioso, o conceito da intervenção divina veio também por inspiração de Wylie.

Semanas depois de sua publicação, os olhos de Siegel se arregalaram ao ler uma propaganda estampada nas últimas páginas de The Shadow: SUPER-HOMEM, logo abaixo, a figura de um homem musculoso lutando contra um atirador, seguido pela legenda: Doc Savage – mestre da mente e do corpo.

Doc Savage também se inspirara em Gladiator. A criação de Lester Dent era o protótipo do homem perfeito: corpo musculoso de pele cor de bronze, cultivados artificialmente em um laboratório, Savage falava qualquer língua deste planeta, sabia manejar qualquer arma e pilotar qualquer máquina, possuía conhecimentos avançados em física, química, biologia e mecânica, tinha uma resistência física excepcional, e graças a uma dieta especial seu corpo envelhecia lentamente, e periodicamente ele se isolava na Fortaleza da Solidão, sua base secreta localizada no Ártico, de onde planejava sua próxima empreitada, seguia os mesmos passos de seu pai, falecido em circunstâncias misteriosas.

Para Siegel o conceito de um super-homem, que anteriormente era um mero clichê sobre força e poder, ganhara agora o foco de ser um herói.

A catarse final se deu em março de 1933 com a revista Detective Dan, editada pela Humor Publishing, que era uma cópia mal feita de Dick Tracy, porém tinha um diferencial: Aquilo era o trabalho autoral de um jovem desenhista como Shuster e Siegel. A má qualidade da publicação decretou sua morte prematura, mas Siegel com um exemplar nas mãos procurou Shuster, pois aquele material não era melhor do que o que eles haviam fazendo, “Nós podemos fazer isso!” disse Siegel.

Em sua mente, o quebra-cabeça se montara: iriam escrever e desenhar uma tira de ação com um herói criado por eles mesmos, e vendê-la a Humor Publishing, mas não seriam quadrinhos policiais, seria algo grandioso, maior que Tarzan e Buck Rogens, mais fantástico que Gladiator e Doc Savage, seria sobre um super-humano com boa índole, seu nome? O Super-Homem.

Em 1933 a primeira versão do super-homem como personagem de quadrinhos foi enviada para a Humor Publishing, que após meses de silêncio, devolveram os originais rejeitando a proposta de Siegel e Shuster. Dessa primeira versão restou apenas hoje à capa esboçada por Shuster, essa capa foi encontrada décadas mais tarde na escrivaninha de Charles Gaines. Jerry tentara a sorte com Gaines enviando seu trabalho para a revista Famous Funnies em 1934, porém o resultado fora o mesmo: rejeitado.

Em junho de 1934 Siegel e Shuster se formam no Glenville High School, às vésperas de completarem ambos 20 anos de idade, trabalhos não remunerados como o jornal The Torch ficaram para trás, era hora de pegar no batente e ganhar dinheiro.

Deixando de lado temporariamente as idéias inovadoras do Super-Homem, Siegel e Shuster partiram para uma linha mais comercial, produziram uma adaptação livre de P. G. Wodehouse chamada Reggie Van Twerp, além de desenvolverem uma tira inspirada em O Gordo e o Magro.

Fecharam negócio com o editor do Cleveland Shopping News, um jornal de anúncios, para produzir um tablóide de quadrinhos chamado Popular Comics.
Porém o Shopping News voltou atrás cancelando o Popular Comics antes mesmo do primeiro exemplar ser impresso.

Neste período silenciosamente Jerry Siegel tentou afastar Joe Shuster do Super-Homem por acreditar que com Shuster, seu trabalho não teria futuro.
Primeiramente Siegel contatou Tony Strobl, aluno da Cleveland Art Institute, mas este preferiu não arriscar com o projeto de Siegel, e após se formar, se tornou um dos melhores artistas dos estúdios de Walt Disney.
Mel Graff foi o seguinte, entusiasmou-se com a idéia de Siegel, e como já trabalhava para a NEA, o sydicate que cuidava das tiras de Wash Tubbs e Alley Oop (Brucutu), parecia ser o parceiro ideal. Porém no final de 1934, Graff partia em mudança para New York para lançar uma tira infantil chamada Patsy, para a Associated Press. Porém em 1935, Graff criou um amigo para Patsy, o Mágico Fantasma, um herói de capa e malha justa no corpo, que usava mágicas para resolver os problemas. Teria Graff se inspirado nas conversas com Siegel o conceito da capa e malha colante ou vice-versa? Essa pergunta permanece até hoje sem resposta.

A cartada seguinte foi Russel Keaton, o jovem desenhista anônimo das pranchas dominicais de Buck Rogers, seu estilo não era diferente do de Shuster, mas Keaton era diplomado pela Chicago Academy of Fine Art, além de já ser um profissional respeitado no mercado, o que poderia abrir as portas para publicar um trabalho próprio em um dos principais syndicates do país. Após meses trocando idéias, Keaton desiste por não querer se arriscar com alguém tão jovem e inexperiente como Siegel. Então no início de 1935, sem outras opções Siegel mantêm sua parceria com Shuster.

Os ventos da mudança vieram com a chegada da New Fun, editada pelo major Malcolm Wheeler Nicholson, e Siegel rapidamente fez contato com ele, o que resultou em duas encomendas: Henri Duval of France – Famed Soldier of Fortune e Dr. Occult – the Ghost Detective, tudo isso pelo módico valor de U$ 6,00.

Novas encomendas vieram, mas o valor pago era mísero, e Shuster trabalhava como entregador em uma mercearia, enquanto Siegel era entregador em uma gráfica. Durante a noite escreviam e desenhavam, e numa leva de sugestões enviadas ao major estava à tira do Super-Homem.

A resposta do Major foi: A tira do Super-Homem está aguardando um pedido iminente de um syndicate nacional... Uma encomenda para um tablóide com 16 páginas, em quatro cores, que poderia incluir o Super-Homem lá pelo início do ano.. “Acho que o Super-Homem tem ótimas chances.”

Animados com a notícia, Siegel e Shuster começaram a esboçar slogans para promover o Super-Homem, como “a tira de maior sucesso de 1936”, “sem dúvida a tira que conquistaria a nação! A Supertira! A melhor de todos os tempos! O maior acontecimento desde o surgimento das histórias em quadrinhos! A melhor tira de super-herói de todos os tempos!” E prometiam também “Velocidade, ação, risadas, emoções, surpresas. A mais inusitada de todas as tiras de humor e aventura jamais criadas! Uma nova personalidade saúda o mundo! Você vai rir! Você vai se admirar! É preciso ver para crer!”.
Entre todos esses slogans foram rabiscados em uma folha usada de papel, eles anteveram os produtos licenciados: caixas de cereais e biscoitos no formato do Super-Homem.
Siegel sabia que o grosso do dinheiro faturado pelos sydicates provinha da concessão de licenças.
Este esboço mostra pela primeira vez o Super-Homem de uniforme colante e capa, no peito um triângulo invertido, sem o famoso “S”.

Em 1934 Pimpinela Escarlate (um dos romances favoritos de Jerry Siegel) foi levado às telas de cinema, o drama da dupla identidade e a aparente ingenuidade do herói perante à mocinha, se tornaram modelo para Clark Kent e Lois Lane.

No final de 1935 o otimismo de Siegel e Shuster começara a baixar novamente, a negociação do major com o syndicate (seja ele qual tenha sido), nunca saiu, e para piorar nem mesmo a publicação da New Fun não havia saído.

Salvo pela Independent News de Harry Donefeld, o major conseguira levar as bancas as revistas New Fun e sete meses depois a New Adventure, mais isso tudo por que Jack Liebowitz entrara controlando a parte financeira.

Com o Super-Homem engavetado mais uma vez, Siegel e Shuster se concentraram nas revistas que estavam sendo publicadas.
Nesse período criaram: Calling All Cars, aventuras protagonizadas por policiais e Federal Men.
Federal Men teve boa aceitação, com a ampliação do tamanho das histórias para quatro páginas, Siegel e Shuster puderam extrapolar um pouco colocando os agentes federais em confronto com robôs gigantes, ou mesmo em cenários apocalípticos dignos das revistas Amazing Stories e Wonder Tales.
Mudaram também o visual do Dr. Occult, que abandonara o terno em troca de uma malha colante, botas, capa vermelha e uma espada. Shuster adorava o efeito dramático de uma capa esvoaçante.

Nessa época Charlie Gaines era um dos maiores fornecedores de quadrinhos para George Delacorte, além de ser um representante freelance do McClure Syndicate.
Portanto Gaines acabou recebendo a proposta de publicação do Super-Homem, a qual ele tentou emplacar em 1937 na revista Popular Comics, e em seguida na Tip Top Comics, porém sem sucesso. A Tip Top Comics pertencia à United Features Syndicate, e o motivo da recusa foi por acharem o trabalho de Siegel e Shuster um tanto imaturo, a Enquire Features recomendou “Prestem um pouco mais de atenção ao desenho”.

Possivelmente nessa época Siegel e Shuster tenham redefinido alguns aspectos do Super-Homem adequando-o para o mercado vigente.
Alguns dos pulps publicados por Donefeld voltados ao público adulto, incluíam alguns quadrinhos. Como Shuster gostava de desenhar garotas sensuais e Siegel tinha um texto que às vezes era apelativo, tentaram levar o Super-Homem para Worth Carnahan que editava entre outras os pulps Pep e Spicy Detective. Carnahan não viu futuro algum no material apresentado pelos rapazes, Super-Homem voltava para a gaveta de espera. Pois o trabalho pago era prioridade na vida de Siegel e Shuster.

No início de 1937 o major preparava mais um título: Detective Comics, colocando Vin Sullivan, seu mais leal editor para cuidar da publicação.
O conceito inicial para a Detective Comics era igual à estrutura dos pulps: histórias completas de um só gênero. As histórias principais teriam 13 páginas cada.
Siegel e Shuster foram convocados para criar algo novo, o resultado foi Slam Bradley, uma mistura de Captain Easy (Capitão César) de Roy Crane e Terry and the Pirates (Terry e os Piratas) de Milton Cannif.
A arte de Shuster se tornara mais esquemática, porém ousada, os textos de Siegel feriam o bom gosto com estereótipos revoltantes.

Criaram também a série Spy com quatro páginas por aventura. No saldo final, das 64 páginas de Detective Comics, 17 eram produzidas por eles, e não demorou muito para ocuparem 30 páginas mensais com suas criações.
Esse ritmo desgastou um pouco a qualidade do trabalho de Siegel e Shuster, pois praticamente tinham de produzir uma página completa por dia: eles eram roteirista, desenhista, letrista e colorista.

Endividado com Harry Donefeld, o major precisava de mais um título de sucesso, sua última tentativa meses atrás tinha sido a Thrilling Comics que não pôde ser publicada por falta de funcionários para cuidar da mesma.
Então em novembro de 1937 o major e Vin Sullivan começaram a juntar o que restara de Thrillig Comics em uma nova revista: Action Comics.

Não havia tempo para encomendar material novo, pois a revista tinha de estar nas bancas na primavera para que pudesse ser promovida com força total. Começaram então a revirar as pilhas de material rejeitado.
Conseguiram material para preencher parte da revista, mas nenhum deles tinha um personagem carismático o suficiente para ilustrar a capa.
Consultaram o cartunista Shelly Mayer que trabalhava para Gaines, se ele sabia de algum material de qualidade que tivesse escapado aos olhos de Gaines.

Shelly encontrou uma amostra do Super-Homem no meio da pilha de trabalhos rejeitados, a versão que Shelly viu era bem violenta: Após salvar um homem de ser linchado, este conta que sua esposa irá àquela noite para a cadeira elétrica sob falsa acusação. O Super-Homem vai atrás da verdadeira assassina: uma loira oxigenada, cantora de cabaré. Recebido a tiros pela assassina, ele arranca o revólver de suas mãos, o esmaga e agarra fortemente o braço da mulher dizendo: “Está pronta para assinar a sua confissão? Ou quer experimentar o que sentiu aquela arma quando eu fechei minha mão?”. A mulher escreve a confissão, é amarrada e amordaçada, sendo levada pelo Super-Homem até a mansão do governador. O mordomo da casa ataca-o com uma faca, mas a lâmina entorta. Derrubando a pesada porta de aço do quarto do governador, o Super-Homem exige que o governador o escute, e por fim conceda o perdão à mulher inocente. No dia seguinte o governador confessa entre seus assessores sobre a terrível visita que recebera a noite: “Ele não é humano!”.

Então Shelly sabia o que sugerir para Vin Sullivan.
Vin ficou empolgado com o material, afinal dois anos tinham se passado desde que ele teria recebido a proposta sobre o Super-Homem, e o momento atual pedia heróis como esse, mas precisava de alguns retoques para se tornar algo mais do que fantástico.
Em novembro, Siegel e Shuster receberam uma carta de Vin Sullivan, informando de que as amostras do Super-Homem estavam a caminho, e que eles a remontassem numa história de 13 páginas, pois ele compraria o material.
Quando a amostra chegou a dupla se trancou no apartamento de Shuster para dar cabo da encomenda, e chamaram o irmão de Shuster, para ajudar no trabalho.

Produziram uma página de introdução contando brevemente a origem do Super-Homem, eliminaram a parte do linchamento e da cantora, foram direto a parte da chegada à mansão do governador com o Super-Homem carregando uma mulher nos braços, sem maiores explicações. Após salvar a mulher da execução, o Super-Homem ainda enfrenta um marido que espancava a esposa, salva Lois Lane de um bando de gangsters, sai atrás de um traficante de armas, terminando na página 13 com um final em aberto para deixar os leitores em suspense, sem contar que também se disfarçara como Clark Kent e fora humilhado na frente de Lois Lane.

No último quadrinho, o Super-Homem corre por um cabo de alta tensão carregando um bandido apavorado dizendo: “Não se preocupe, os passarinhos ficam nos cabos e não são eletrocutados, desde que não toquem num poste! Opa! Quase bati naquele ali!”.
Aquilo era algo novo: um super-herói fazendo uma piada, algo totalmente inconcebível para Doc Savage, Tarzan, Flash Gordon, Fantasma, O Sombra, etc..
Aquilo era um grande diferencial para a juventude.

Pelo trabalho, Jerry Siegel e Joe Shuster receberam um cheque de 130 dólares, e assinaram um documento cedendo todos os direitos sobre o Super-Homem para a editora, pois era assim que as coisas funcionavam, e eles já haviam feito isso antes com todos os outros trabalhos anteriores.

Shuster declarou que abriria mão dos outros trabalhos para se dedicar exclusivamente ao Super-Homem, que no final das contas era bem mais divertido de se trabalhar do que Federal Men ou Radio Squad.
O major Malcolm não se saiu bem na história, no início de 1938 após voltar de uma viagem a passeio por Cuba, descobriu que fora “despejado” do escritório por Donefeld em virtude a falta de pagamentos, e tinha sua empresa levada ao tribunal de falências.
Em um acordo judicial a Independet News se tornara dona de todos os ativos do major, que em troca recebera apenas uma percentagem sobre o título More Fun Comics. Desistindo do mundo dos comics, o major passou a se dedicar como escritor de histórias de guerra e críticas às forças armadas americanas.
Vin Sullivan continuou como editor, Jack Liebowitz prosseguiu como contador.
Nenhum deles tinha como prever como o mundo dos quadrinhos iria mudar após a publicação do primeiro número de Action Comics.
E assim nasceu o Super-Homem.


Consulta bibliográfica:
- http://www.dialbforblog.com/
- Homens do Amanhã - Gerard Jones - Conrad Editora
  • postado Nikki Nixon às 1:15 AM