QUEM LÊ QUADRINHOS, CONSOME!

Enquanto os comerciais de tv e rádio são limitados por um número fixo de exibições, os folders vem e vão pelas ruas e malas diretas, os banners na internet ainda tem um alcance limitado, os anúncios em revistas fazem parte do tipo de propaganda mais duradoura que existe.
Mas quem anuncia e por que o anunciante é importante?
Os quadrinhos em sua grande maioria atingem os públicos infanto-juvenil e adulto, sendo o infanto-juvenil representante da maior fatia consumidora do mercado (roupas, bebidas, alimentos, brinquedos, eletrônicos, etc..).

Assim temos um veículo poderoso que atinge diretamente o público-alvo que mais consome, sem esquecer a cobertura do território nacional, e em alguns casos, a revista chega até Portugal.
Tal presença acarretaria um aumento de tiragem, redução do preço de capa, o que por conseguinte tornaria a publicação mais atraente e acessível. No entanto...
Mas essa situação sempre existiu? Já tivemos anunciantes em potencial nas hq´s? Que tipo de produtos já foram anunciados? Na matéria de hoje o HQ Memória faz um apanhado dos principais anúncios/anunciantes que investiram no público leitor de quadrinhos a partir da década de 60.
Com vocês o nosso patrocinador:
Cursos de Detetive

Geralmente patrocinados pela Escola de Investigações Bechara Jalkh, os anúncios que prometiam transformar o leitor em um moderno James Bond através de fantásticas técnicas de luta, visores de infravermelho, maletas-microfone, etc.. eram facilmente encontrados na terceira capa dos quadrinhos de faroeste da editora Vecchi (Ken Parker, Zagor, Tex, etc..).
Literatura esotérica e umbandista

A empatia do brasileiro pelo lado oculto era explorado em anúncios de livros de umbanda, candomblé, bruxaria, espiritismo kardecista, simpatias e venda de patuás mágicos. Tais anúncios eram constantes nas revistas Spektro, Histórias do Além, Pesadelo e Sobrenatural, da editora Vecchi.
Demais publicações

Muitas vezes os quadrinhos anunciavam livros de romance, humor, policiais, etc.. e geralmente incluindo junto um cupon de pedidos. Essa prática era unânime entre todas as editoras.
Cadernetas de Poupança

Brinquedos
Ebal, RGE, Cruzeiro, Globo, Abril e Panini foram as editoras que mais anunciaram em suas revistas diversas linhas de brinquedos, com destaque para Atma, Gulliver e Estrela.
Roupas
Fantasias de super-heróis, camisas com estampas de diversos heróis, jeans, malhas, tênis, botas e sandálias estiveram presente em anúncios de até duas páginas, entre os anunciantes de destaque citamos as malhas Hering, jeans Staroup e tênis Íris.
Doces e sobremesas
Quem inovou nesse segmento foi a Danone com uma série anúnicios de Danoninho que saiam sempre na contra-capa das publicações infantis da Abril na década de 80, onde além de divulgar o produto, ensinava que utilizando as duas embalagens vazias de danoninho a criança poderia fazer um bonequinho especial. Os adereços e faces eram estampados no anúcio para a criança recortar e colar nas embalagens.
Não tem como esquecer as propagandas psicodélicas da goiabada Etti.
Bebidas
A febre nos anos 70 foi a Fanta uva, com anúncios em praticamente todas as publicações da Ebal. Curiosamente, apesar da Fanta fazer parte do conglomerado da Coca-Cola, esta nunca se fez anunciar nas hq’s. Porém anunciou bastante na Seleções Readers Digest nas décadas anteriores. O falecido guaraná brahma esteve presente nas publicações infatis da Abril.
Programas de TV

Nos rodapés das revistas da RGE na década de 60/70, vinham os anúncios dos seriados de TV e desenhos animados. Já a Bloch anunciava o programa do Capitão Aza. As quadrinizações de personagens da tv eram freqüentes (Trapalhões, Angélica, Faustão, Xuxa, etc..).
Cursos profissionalizantes
O campeão nesse segmento é o saudoso Instituto Universal Brasileiro que no início colocava em seus anúncios as fotos e depoimentos de ex-alunos satisfeitos, para na década de 80 anunciar sob a forma de uma pequena hq onde um jovem desempregado fazia o curso de desenhista por correspondência e ao se formar, arrumava emprego em uma grande editora, tornando-se famoso, rico e famoso!!
Porém, anos antes a Escola Panamericana de desenho fazia o mesmo uso de linguagem em seus anúncios.
Como um reflexo do período militar aqui no Brasil, as forças armadas procuravam arrebanhar novos recrutas, oferecendo "grandes oportunidades" ao leitor civil.
Saúde e boa forma
Um anúcio em forma de hq mostrava uma caricatura do batman impedido de combater o crime por estar gripado, até tomar Coristina-C e se recuperar, prendendo todos os vilões. Remédios para gripe, Emulsão Scott, Biotônico Fontoura, geléia de mocotó, cintas para emagrecimento, aulas de kung-fu, mini-academias domésticas, etc..
As hq´s vendiam saúde, e ao lado do Instituto Universal, esse tipo de anunciante, foi o mais presente na mídia impressa.
Material escolar
Empresas de ônibus

Diversos
Cursos de mágica do Instituto Fu-Manchu, jogos e brincadeiras, Garelli (aquela bicicleta com motor de moto ou moto com pedal de bicicleta), vídeo games, programas de futebol da Bandeirantes, quase todos os segmentos já anunciaram nas páginas e contra-capas das hq´s brasileiras.
Editoras como EBAL, RGE e Abril tinham um departamento especializado na parte comercial, outras aparentemente se aventuravam na cara e coragem, anunciando em suas revistas os mais bizarros produtos numa época em não existia a distribuição setorizada (salvo raras exceções).
Hoje temos publicações de qualidade gráfica e de acabamento superior a de qualquer época, temos um público fiel que está sempre comprando sua revista e (obviamente) consumindo outros produtos, então onde estão os anunciantes? Será que faltam anunciantes ou será que o que falta é alguem para abrir a porta e chama-los?
O mercado consumidor hoje atravessa uma excelente fase, seria hora dos editores atuais acordarem, pois tempo e papel são dinheiro.